segunda-feira, julho 8

A minha tia Bita


A minha tia Bita não é minha tia de sangue.
É a melhor amiga da minha mãe, é madrinha do meu irmão e é minha tia de coração.
Tem 76 anos e nunca casou nem tem filhos.
Está internada no hospital com insuficiência respiratória.
Está nos cuidados intensivos e eu fui lá vê-la hoje.
E fiquei com um nó na garganta porque não estava à espera de a ver assim.
Só respira com a ajuda de uma máquina, que não a deixa falar e, como não pode pôr os óculos, quase não vê.
Ali está, todo o dia, ligada a máquinas, sem falar, sem comer, sem se mexer.
Falei com ela o que pude, contei-lhe das férias, do calor abrasador que ali não se sente, dos miúdos, do regresso ao trabalho. Sem respostas, a não ser uns gemidos que confirmaram que me ouve...
Tem uma mão inchadíssima porque o cateter rebentou com a veia da mão e aquilo está em muito mau estado.
Confirmou-me que não tem dores, mas encolheu os ombros a muitas das perguntas que lhe fiz.
Ela está muito débil e eu fiquei muito triste por vê-la assim, mas o que me deixou verdadeiramente em baixo foi o facto da enfermeira me ter vindo pedir um contacto telefónico e um nome de um familiar porque ela está lá há 5 dias e ainda não tem qualquer informação... como se de um sem abrigo se tratasse.
A minha tia Bita tem um irmão e vários sobrinhos e sobrinhas.
Que sempre tratou com carinho e consideração.
Deixei o nome e o contacto da minha mãe, que lá tem ido várias vezes nestes dias, com a informação de que é irmã.
Ainda que de coração.

Hoje vou adormecer a pensar nela.
Das melhores pessoas que este mundo conheceu.


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